quinta-feira, 19 de julho de 2007

Coração e Formação

Devo contrair que às vezes as opiniões que se "blogam" são ditadas mais pela emoção do que pela própria racionalidade. Mas o contrário também é verdadeiro. Ás vezes as coisas mais pensadas escapam na emoção da escrita e nas imagens que se transmitem.. qualquer coisa como o post anterior.
E como muita da escrita serve para acondicionar pensamentos, dou-me aqui a escrever este post balançando entre duas coisas que se juntam para a formação fazer sentido e revelar eficácia.

Na verdade, se pensarmos que a formação profissional é um instrumento que serve a gestão de um país somos arrastados para a ideia que a função da mesma será única e exclusivamente garantir resultados práticos desse mesmo investimento em termos de qualificações e competências.
Esta é a via daqueles que entendem a formação com o coração, que acreditam e defendem que a formação é uma resposta muito válida para se obterem mais-valias na vida dos cidadãos enquanto pessoas e profissionais, e daí, no país.

No entanto, a visão estratégica e racional da política da formação não cobre exclusivamente esta perspectiva "apaixonada" e detida por milhares de formadores e técnicos que trabalham nesta área. Infelizmente é assim.

Ao contrário daqueles que "pensam", seja ela de que índole for, a formação, não é uma solução para os milhares de destinatários abrangidos pelos futuros programas temáticos que irão abalar o país de lés-a-lés. Ela não vai fazer a diferença que se pretende. Porquê? Vamos a algumas respostas.

Em primeiro lugar porque todos eles são pessoas, não são números. As pessoas guiam-se pela sua motivação, e essa está dependente das suas necessidades. E o facto é que num país como o nosso, onde as desigualdades sociais vão-se agravando e o nível de vida disparou desde a implementação do euro, as pessoas estão mais interessadas em obter condições de vida e em garantir a suficiência económica para pagar as contas e os juros dos empréstimos no final do mês.

Em segundo lugar, que garantias é que as pessoas têm ao investir o seu tempo na formação profissional ou de dupla certificação? Nenhumas.
De facto, que resultados foram aferidos como impacto dos numerosos cursos EFA que foram implementados pelo país, nomeadamente ao nível da empregabilidade, da satisfação dos activos ou repercussões nas carreiras profissionais ou salários?
Quase nenhuns. Bem, segundo sei, existe pelo menos um estudo que abrangeu uma sub-região do norte do país em que os resultados positivos/benefícios do impacto da formação na vida das pessoas ficaram-se por menos de 1%. O que não é manifestamente suficiente, sendo, para além disso um sinal de que a formação não está a atingir o nível de desenvolvimento pretendido - não está a resultar!
Culpa dos operadores da formação? Não, entendo que não.

Em terceiro lugar, não existe a cultura da formação. Não, não existe. Os sucessivos QCA's disponibilizaram sempre subsídios e bolsas para a frequência da formação profissional até ao ponto das pessoas avaliarem e a acolherem em função dos mesmos.
É certo que tais apoios foram e têm sido gradualmente retirados, reduzindo-os aos subsídios de refeição, mas ao longo do tempo essa política criou um referencial perceptivo onde a frequência de formação por si não não é vista como um beneficio quando, de facto, o é.

No fundo, onde está a razão nisto tudo? O tal racionalismo estratégico interdisciplinar e multidimensional que cria mais-valias com meios, recursos financeiros e com a matéria-prima PESSOAS?
Até ao momento, não parece existir.. mas vamos esperar pelas regras do QREN para ver o que este irá "oferecer".

Não me considerando um elemento do sistema do "tipo bota-baixo", no próximo post revelarei algumas opiniões sobre soluções que entendo que seriam muito positivas para o sistema da formação profissional.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou uma novata nestas andanças e não sei se é pelos meus 26 (no meu caso, invernos) ou pela inexperiência, ou pela junção de ambas, mas o que é certo é que ainda encaro a formação mais com o coração do que com a razão.
A paixão pela formação é o que me move, é sem dúvida o meu "combustível" sem o qual não funciono.
Contudo, também me esforço para que a paixão não turve a visão racional que qualquer formador deve ter...até podemos ver a formação como um mar de rosas, mas não podemos ignorar os espinhos. Estariamos a ser demasiado utópicos, diria até irresponsáveis. Talvez não seja possível eliminar todos, mas se reduzirmos alguns, nem que seja um só, o esforço não terá sido em vão.

Por ex.: nas informações dadas ao candidato sobre determinado curso a ideia que eu tenho é que é muito raro termos uma entidade que nos diga qual a percentagem de formandos que arranjaram emprego por terem frequentado aquele curso ou quantos viram os seus salários aumentados ou com que empresas estabelecem protocolos de estágio.
Creio que não podemos dar garantias a 100%, mas não será este tipo de informação importante para motivar futuros formandos e também para verficar se a formação está a ter ou não sucesso? Ou será top secret? Ou não é nem uma coisa, nem outra, porque simplesmente essa informação não existe?


E ficaria aqui a noite toda a escrever sobre espinhos...

Mas voltando às rosas, parabéns pelo blog, tem aqui informação e dicas preciosas! Obrigada por essa partilha.

Bjs,

Mara